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As cores e contrastes da viola de Gabriel Souza

Em seu álbum de estreia, o músico de Jundiaí revela influências consolidadas, mas principalmente mostra a construção de um caminho próprio.
September 24, 2025 por
As cores e contrastes da viola de Gabriel Souza
Vinícius Muniz
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A viola brasileira de dez cordas — viola caipira, viola de festa, viola sertaneja, tantos nomes para um só instrumento — constantemente nos surpreende com novos frutos. Talvez por isso ela tenha tantas denominações: uma forma de abarcar a infinidade de sons, composições e identidades que brotam de suas cordas.

A viola do jovem violeiro Gabriel Souza, paulista de Jundiaí, é mais um desses frutos que nascem já com força suficiente para abrir caminhos inéditos para o instrumento. Em "Contraste", seu álbum de estreia lançado em abril de 2025, Gabriel apresenta um repertório inteiramente autoral que impressiona pela maturidade e coerência estética.

Contemplado pela Lei Paulo Gustavo do Município de Jundiaí, o disco teve direção musical do mestre violeiro João Paulo Amaral, de quem Gabriel foi aluno e com quem atualmente integra a Orquestra Filarmônica de Violas. Essa parceria se revela fundamental para compreender as escolhas estéticas do trabalho.




São dez faixas nas quais o violeiro explora ritmos, melodias e harmonias sofisticadas, sempre com nuances sutis que não comprometem a potência expressiva. A referência ao mentor se faz presente tanto na música quanto na instrumentação: o disco é quase todo construído em formato de trio, com Pedro Dona nos contrabaixos e Pedro Romão na percussão, remetendo diretamente à sonoridade dos álbuns "Viola Brasileira" e "Aço da Terra", marcos na discografia de Amaral.

Mas essa influência não se transforma em mimetismo. Gabriel revela um olhar particular e inédito, especialmente através de fraseados que lidam com elegância com a dissonância, acolhendo-a com generosidade e dando-lhe protagonismo, sem relegá-la à condição de elemento ornamental.

Controle total, expressão ampla

Uma das grandes qualidades do álbum é o som que Gabriel extrai de sua viola Vergílio Lima. É evidente seu alto controle mecânico e sonoro, o que lhe permite explorar diferentes timbres conforme a necessidade de cada composição, sempre mantendo uma diretriz unificante que costura todo o trabalho. É genuinamente prazeroso acompanhar seu toque ao longo das dez faixas.

Cabe aqui reconhecer também o trabalho de Marcelo Cecchi no Estúdio Sincopa, responsável por alguns dos mais importantes registros de viola das últimas duas décadas. A qualidade técnica da captação e mixagem permite que cada nuance do instrumento seja percebida com clareza.


O poder do coletivo

A integração entre o trio é uma das maiores virtudes do disco. Cada instrumento encontra seu espaço próprio, tanto do ponto de vista da mixagem quanto, principalmente, pelos arranjos criteriosamente elaborados por Gabriel. Bateria e baixo não se limitam a ornamentar: dialogam, expandem, reforçam e, sobretudo, propõem conversas musicais genuínas.

A presença da viola de Marina Ebbecke em algumas composições adiciona outra camada de riqueza ao trabalho. Seu toque preciso e limpo cria com Gabriel uma amálgama de cordas poderosa, acrescentando mais uma cor, mais um contraste — justificando perfeitamente o título do álbum.

Gabriel Souza confirma, mais uma vez, que a viola brasileira é inesgotável em suas possibilidades. Cheia de cores, contrastes e caminhos ainda por descobrir. E que alegria é saber disso através de um trabalho de estreia tão consistente e promissor.


Ficha Técnica

Composição, viola caipira e arranjos • Gabriel Souza
Composição e viola caipira • Marina Ebbecke
Contrabaixo acústico/elétrico • Pedro Dona
Percussão • Pedro Romão e Aryan Nay
Direção musical • João Paulo Amaral
Gravação, mixagem e masterização • Marcelo Cecchi
Distribuição digital • Tratore

Visual
Design de capa • Estúdio Risco
Fotos • Marcelo da Costa

Vídeo
Captação de imagens: Laura Helena Marina Ebbecke
Imprensa: Assessoria de imprensa • EBF Comunicação


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