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Sete Brasis, Sete Violas

André Moraes e César Petená desenham um mapa sonoro do país através de cordas que poucos conhecem.
24 de setembro de 2025 por
Sete Brasis, Sete Violas
Vinícius Muniz
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Imaginem dois violeiros que decidem não apenas tocar viola, mas descobrir quantas violas existem no Brasil. André Moraes e César Petená passaram dez anos fazendo exatamente isso, e o resultado é um trabalho que funciona como uma aula de geografia musical brasileira.

O duo nasceu quase por acaso, em 2015 durante os ensaios da Orquestra Filarmônica de Violas. Desde então, transformaram curiosidade em método, pesquisa em arte, e arte em algo que funciona como um poder transformador, nas palavras de César Petená.

Contemplados pelo PROAC 2023, eles gravaram um álbum que é, ao mesmo tempo, registro documental e experiência estética. Sete violas encontradas em nosso país ganham voz em composições e arranjos inéditos: viola caipira, viola dinâmica, viola machete, viola de cocho, viola de cabaça, viola caiçara e viola de buriti. Cada uma carrega não apenas um som, mas uma história, uma região, uma forma de viver.

O álbum Violas Brasileiras é um verdadeiro inventário sonoro que reúne sete tipos diferentes de violas:

Duo César Petená e André MoraesFoto: Tércio Esperandio

  • Viola machete (Recôncavo Baiano)

  • Viola de cocho (Mato Grosso)

  • Viola dinâmica (Nordeste)

  • Viola de buriti (Jalapão, TO)

  • Viola caiçara (litoral sul de SP)

  • Viola caipira

  • Viola de cabaça de 12 cordas

O desafio não é pequeno. Obter conhecimentos sobre os usos sociais, técnicas e execuções dos vários tipos de violas é notável, devido às suas singularidades timbrísticas, acústicas, número de cordas, afinações diversas, formas e usos, como define o Prof. Dr. Alberto T. Ikeda. Mais complexo ainda é fazer tudo isso soar como música, não como catálogo.

E aqui reside a genialidade do projeto. Moraes e Petená não se contentaram em colecionar instrumentos raros. Eles os fizeram dialogar. Perceber as nuances de uma peça executada com uma viola de cocho ou de buriti combinada com uma viola caipira ou dinâmica, cujos volumes e timbres são tão diferenciados, exige não apenas técnica, mas sensibilidade para o que cada viola tem a dizer.




O resultado prático é revelador. As pessoas vão às apresentações da dupla esperando encontrar apenas a viola caipira, mais conhecida do que as outras, e se deparam com instrumentos que sequer imaginavam. O público chega pensando que conhece o Brasil musical e sai descobrindo que mal arranharam a superfície.

"Aproximar esses instrumentos em um único show, de certa forma, leva as pessoas a refletir que o Brasil não é só aquele em que vivem", explica Petená. É uma frase simples que carrega uma verdade poderosa: cada viola representa um Brasil diferente, um modo de ser brasileiro que talvez esteja a centenas de quilômetros da nossa realidade.

Livro Violas Brasileiras

Desde então vem se apresentando em diversas cidades do estado de São Paulo, conquistando tanto o público mais jovem interessado nas vertentes modernas da Viola, quanto o público conservador, admirador das tradicionais modas caipiras. Essa ponte entre gerações e gostos é outro mérito do trabalho: mostrar que tradição e inovação não são opostos, mas faces da mesma moeda musical.

O projeto ganhou forma completa com um livro que acompanha o álbum. Através de imagens, relatos e partituras, compartilham os conhecimentos de quem utiliza os instrumentos na prática em suas gravações e apresentações musicais. Não é apenas documentação acadêmica, mas registro vivo de uma pesquisa que aconteceu no contato direto com luthiers, mestres e comunidades.

Livro Violas Brasileiras

Gravado inteiramente ao vivo no Estúdio Juá, o álbum preserva algo essencial: o aspecto colaborativo entre os músicos, semelhante ao companheirismo dos viveres populares interioranos do Brasil. É música que acontece no encontro, no diálogo, na conversa entre cordas que falam idiomas diferentes mas se entendem perfeitamente.

O álbum com as 12 faixas também está disponível gratuitamente em todas as plataformas digitais, assim como o livro Violas Brasileiras está disponível para download gratuito. É uma generosidade que faz sentido: conhecimento sobre diversidade cultural brasileira deveria mesmo ser de livre acesso.

🔍 O Futuro do Projeto: Expandindo Horizontes

O Duo Violas Brasileiras continua a expandir seu trabalho, com planos para novos álbuns, documentários e colaborações. Um projeto em desenvolvimento é o documentário "Violas Brasileiras: Uma Viagem Musical pelo Brasil", que pretende mostrar como as tradições da viola se reinventam para sobreviver e prosperar no Brasil contemporâneo .

Além disso, o duo busca parcerias com instituições educacionais e culturais para ampliar o alcance do projeto, levando a magia das violas brasileiras para um público cada vez maior 


André Moraes e César Petená criaram algo raro: um trabalho que é, simultaneamente, pesquisa, arte e educação. Eles provaram que o Brasil musical é muito maior do que imaginamos e que nossas violas – todas elas – têm muito mais a contar sobre quem somos. Basta ter ouvidos para escutar.

Repertório


Ficha Técnica

Produção musical: André Moraes e César Petená
Direção musical: César Petená
Gravado ao vivo, mixado e masterizado: 02-07/2024 – Estúdio Juá
Técnicos de Captação: Alencar Martins e Paulo Gianini
Mixagem e Masterização: Alencar Martins
Projeto gráfico: Douglas Pierazzi
Fotografia: Tércio Esperandio
Versão em Inglês: Vanessa Peris
Produção executiva: André Moraes

O livro conta com fotos de Tércio Esperandio e Ilustrações de Yuri Garfunkel. Foi diagramado e editado por Aline Shinzato e Domingos de Salvi. Traduzido para inglês por Vanessa Peris.

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