Pular para o conteúdo

O horizonte Cristalino de Ricardo Vignini

Em seu 8º álbum solo, o artista paulista escancara as janelas e portas e nos mostra as infinidades de caminhos para a viola.
24 de setembro de 2025 por
O horizonte Cristalino de Ricardo Vignini
Vinícius Muniz
|

O músico, violeiro, compositor e produtor paulista Ricardo Vignini (1973) é um artista em constante produção, capaz de sacar da manga novos discos e gravações de alta qualidade com rapidez e quando menos se espera, para a felicidade de seu público e da música brasileira.

Cristalino é seu 8º álbum solo e o 27º da carreira, uma trajetória marcada por produções como os álbuns com a banda Matuto Moderno e o exitoso e importante projeto Moda de Rock, ao lado de outro grande violeiro, Zé Helder.

O álbum Cristalino é impulsionado por um elemento fundamental: a viola eletrodinâmica, criada pelo luthier Luciano Queiroz (Assis-SP). O disco foi quase todo gravado com essa viola — um instrumento que se situa em uma incrível tríplice fronteira sonora: a viola acústica, a viola dinâmica e a guitarra elétrica. Vignini faz bom uso dessas múltiplas possibilidades de combinação para construir timbres únicos em quase todas as faixas. O resultado é um mosaico sonoro que leva o ouvinte a ampliar seu repertório de respostas para a clássica pergunta: "Isso é viola?". Sim, é viola, ou melhor: são violas.


As maravilhosas violas feitas por Luciano Queiroz


No repertório, como é característico em sua carreira, Vignini aposta em composições autorais que carregam sua marca criativa: encontrar o ponto de fusão entre elementos do rock e os toques tradicionais de viola, uma preciosa herança recebida do mestre Índio Cachoeira, com quem Vignini tocou e aprendeu por quase duas décadas.

Não é simples fazer isso, mas Vignini há anos encontrou essa fórmula e, em Cristalino, o artista dá mais pistas de onde está esse caminho. A faixa "Boca do Asfalto", uma homenagem ao trombonista Bocato, é um bom exemplo da conquista desse equilíbrio. Contando com as participações de André Hass (percussão), Ricardo Berti (bateria) e Fernando Nunes (baixo), a faixa carrega a potência do rock conduzida por uma viola de corpo maciço, que em determinado ponto abre espaço para que outra viola, a acústica, corte o espaço sonoro e firme na terra o outro pé do artista. Não há conflitos nem choques. Tudo está onde deveria estar.

No repertório, destaca-se também o arranjo de "Menino da Porteira" (Luizinho e Teddy Vieira), tocado aqui com uma viola com slide, remetendo à sonoridade de um blues, algo que, por sinal, parece muito coerente com o lamento descrito na letra da canção. Outro destaque do arranjo é a solução elegante encontrada pelo artista para o icônico solo de introdução dessa canção.

Há ainda temas que nitidamente contam histórias do artista, como "Domingo na Vila", "Polyando" e a faixa-título, "Cristalino", algo que não é simples de se fazer em música instrumental. Ao ouvir essas faixas, o público terá duas opções: tentar descobrir a história por trás delas ou usá-las para embalar suas próprias histórias. Ambas as opções são excelentes.




Cristalino, além de nome do disco, também pode ser um adjetivo para o toque de viola de Vignini. Independentemente da viola que ele escolha para tocar ou do efeito que aplique, seus fraseados são sempre muito transparentes e bem articulados. Percebe-se o esmero do artista ao polir cada nota até que se pareça com água de riacho.

O álbum reforça as infinitas possibilidades da viola, desde sua construção até a forma de tocar, compor e arranjar. Vignini escancara ainda mais as janelas e portas para que se veja o horizonte em todas as direções e os caminhos que existem. Para muitos deles, já há até mapas esmiuçados, e a prova disso é a música desse grande e inquieto artista paulista chamado Ricardo Vignini.

Ficha Técnica:

Cristalino - Ricardo Vignini, Selo Folguedo, 2025.

Distribuição digital: Tratore. Formato: CD digital, Lançamento: 25 de julho

Estúdios: Bojo Elétrico e Space Blues.

Faixas:

1. "Jogo de espelhos" (Ricardo Vignini)

2. "Domingo na Vila" (Ricardo Vignini)

3. "Bailado Andinho" (Índio Cachoeira e Ricardo Vignini)

4. "Menino da porteira" (Teddy Vieira e Luizinho)

5. "Boca do asfalto" (Ricardo Vignini)

6. "Cristalino" (Ricardo Vignini)

7. "Polyando" (Ricardo Vignini)

8. "Ovo de galo" (Ricardo Vignini)

Ricardo Vignini: violas
Ricardo Berti: Bateria
Seth Byrd: violino
Pedro Macedo, Fernando Nunes e Renan Dias: baixo
André Hass: percussão
Rita Perran: fotografia

Compartilhar 
Faça login para deixar um comentário