No último domingo, 2 de novembro de 2025, a música brasileira perdeu um de seus maiores gênios. Lô Borges, cantor, compositor e fundador do icônico Clube da Esquina, faleceu aos 73 anos, em Belo Horizonte, vítima de falência múltipla de órgãos decorrente de intoxicação medicamentosa, após semanas de luta hospitalar. Sua partida silenciosa ecoou como uma nota triste em todos os recantos da música mundial.
Um Prodígio da Música Brasileira
Lô Borges foi um verdadeiro prodígio. Aos 19 anos, gravou o álbum "Clube da Esquina" ao lado de Milton Nascimento, desafiando todas as expectativas dos executivos da gravadora — que desconfiavam do talento daquele jovem desconhecido. Milton insistiu: "Se não gravar com Lô, não gravo também". O resultado foi histórico: Lô superou todas as expectativas, assinando faixas imortais como Paisagem da Janela e O Trem Azul, e redefinindo os limites da música brasileira. O álbum, referência internacional, influenciou músicos do mundo inteiro e consolidou Belo Horizonte como um polo de renovação musical.
Composição: Uma Rotina Diária e Incansável
O que torna Lô Borges ainda mais extraordinário é que, mesmo na maturidade, ele nunca deixou de criar. Nos últimos anos, Lô manteve uma verdadeira maratona criativa: lançou cinco álbuns em apenas cinco anos — Rio da Lua (2019), Dínamo (2020), Muito Além do Fim (2021), Chama Viva (2022) e Não Me Espere na Estação (2023). Em 2024, o álbum Tobogã confirmou seu compromisso de apresentar um trabalho autoral de inéditas por ano. Essa energia criativa, visceral e cotidiana, foi tema de documentários e motivou fãs e colegas a celebrar a compulsão musical de Lô, proporcionando à MPB uma contínua renovação de repertório.
Lô compunha desde jovem, mas afirmava que sua produtividade nos últimos anos era superior ao início de carreira. A música, para ele, era ritual diário, ato espontâneo, pulsação vital — resultado de dedicação ao violão e ao sonho contínuo de encontrar beleza nas melodias.
Reconhecimento Internacional
Se Minas Gerais foi o berço da criatividade de Lô Borges, o mundo se tornou sua arena. Lô foi reconhecido internacionalmente como um dos mais importantes compositores contemporâneos, influência citada por bandas como Radiohead, Arctic Monkeys e até pelo gigante americano Beck, que já expressou admiração pública pelo Clube da Esquina. O álbum “Clube da Esquina”, gravado por Lô em sua juventude, aparece em listas de referência da BBC e do The Guardian. Sua música cruzou fronteiras, sendo cultuada por fãs no Japão, Europa, América Latina e Estados Unidos.
A crítica internacional repetidamente celebra a sofisticação harmônica, lirismo e ousadia melódica de Lô Borges. Suas músicas foram gravadas por artistas das mais diferentes gerações e estilos, da MPB ao indie rock mundial.
Despedida de um Genial Criador
O legado de Lô Borges é marcado por prodígio, criatividade incessante e prestígio global. Sua passagem encerra um ciclo de mais de cinco décadas de música feita todos os dias, sempre guiada pela busca do sublime e pela dedicação ao ato de compor. O Clube da Esquina, que ajudou a fundar, continua vivo — nas janelas líricas, nos trens azuis, no girassol da cor do cabelo e em cada esquina do mundo onde sua música é celebrada.
A despedida de Lô Borges reforça para a cultura mundial o valor da originalidade, da generosidade poética e da força criativa que só um verdadeiro prodígio é capaz de ofertar. Sua música continuará sendo semente de renovação e fascínio para as gerações queque virão.
Naquela esquina aonde tudo começou:
fonte: storie instagram @nataliatiso