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Pau Brasil

Gedeão da Viola – Pau Brasil: O Virtuosismo do Toque Aranhado que encantou o Brasil
20 de novembro de 2025 por
Pau Brasil
Vinícius Muniz
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Quando falamos da história da viola caipira instrumental brasileira, poucos discos se igualam em importância e beleza a “Pau Brasil” (1988), obra-prima do violeiro Gedeão da Viola. Muito mais que um álbum, “Pau Brasil” é um marco – reverenciado por músicos, estudiosos e o grande público, que por mais de uma década ouviu seus acordes logo na abertura do programa “Viola, minha viola”, comandado por Inezita Barroso na TV Cultura (São Paulo).

Um Mestre Autodidata das Raízes Caipiras

Gedeão da Viola era o nome artístico de Gedeão Nogueira, nascido em 16 de abril de 1945 em Limeira, interior de São Paulo. Carregava desde pequeno a cultura caipira: foi dançarino de catira na infância, antes de se apaixonar de vez pela viola, instrumento que aprendeu como artesão e autodidata, afinando violas de grandes nomes como Tião Carreiro e Bambico. Ao longo da vida, Gedeão também foi boiadeiro, instrutor de rodeio e professor de viola, engajado com o universo rural e com as festas populares.

Sua relação com a viola consolidou-se a partir da convivência em praças e rodas de músicos da capital paulista, onde trabalhava consertando instrumentos. A partir dos anos 1980, transferiu-se para Barretos, onde se tornou referência e incentivador de festivais de viola – e fomentador de novas gerações de violeiros.

Gedeão morreu em 27 de julho de 2005, em Barretos (SP), deixando um legado de virtuosismo, generosidade e autenticidade.

O Toque Aranhado: Uma Revolução Técnica.

Um dos traços mais notáveis de Gedeão foi o desenvolvimento do estilo que ficou conhecido como “toque aranhado” na viola caipira. Diferente do toque convencional, o “aranhado” consiste em uma execução ágil e envolvente dos dedos nas cordas. O próprio violeiro descrevia esse estilo como uma “aranha caminhando pelas cordas” – técnica que exige precisão, velocidade e independência das mãos, conferindo fluidez aos solos.

“Pau Brasil”: Tema Nacional

A música “Pau Brasil”, que abre e dá nome ao disco, foi por mais de dez anos a abertura do icônico programa “Viola, minha viola”. Tornou-se, assim, trilha sonora de milhares de domingos nas casas brasileiras, identificando-se diretamente com a história e o imaginário da viola caipira. A faixa também integrou a trilha de novelas, como “Serras Azuis” na TV Bandeirantes, projetando o trabalho de Gedeão para além dos públicos de nicho e o tornando referência nacional.

O álbum apresenta outras peças de enorme sensibilidade, como “Beleza Matogrossense”, “Assanhadinho”, “Descendo Escada”, “Visita ao Nordeste”, “Sonho de Criança” e a emblemática “Solidão Sertaneja” – todas demonstrando domínio técnico e riqueza melódica, aproximando-se de uma obra de arte “pintada” com sons.

Legado: Entre a Tradição e a Inovação

“Pau Brasil” não é apenas uma referência discográfica: é coração pulsante da tradição instrumental da viola, relido com inovação e respeito às raízes. Ao lado de nomes como Tião Carreiro, Téo Azevedo e Bambico, Gedeão ajudou a consolidar o repertório do instrumento como linguagem universal. Formador de duplas e incentivador de festivais, sua carreira foi marcada pelo engajamento social, ensinando jovens, crianças e renovando o interesse pela cultura rural.

Sua técnica, sua criatividade e o timbre inconfundível do toque aranhado continuam a inspirar músicos das novas gerações, fazendo de Gedeão da Viola um verdadeiro mestre imortal da música brasileira.


Fontes consultadas: Dicionário Cravo Albin, Wikipédia, Recanto Caipira, arquivo biográfico em vídeo, relatos de colecionadores e base Discogs.
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