Lançado em sua versão original em vinil pela gravadora GEL Continental, Brincando com a Viola é um marco na trajetória do violeiro Bambico (Domingos Miguel dos Santos), um nome fundamental da música instrumental caipira e do pagode de viola. O disco, que mescla virtuosismo técnico e raízes culturais profundas, destaca-se como um testemunho das origens e da riqueza sonora da viola brasileira em meados do século XX.
Com arranjos elaborados e uma seleção diversificada de ritmos – que inclui pagodes, baiões, rancheiras, toadas e até um chorinho –, Bambico demonstra toda sua maestria como instrumentista e compositor. Entre as faixas de destaque estão "Brincando Com A Viola" (pagode estilizado), "Sanfoneiro Folgado" (rancheira gaúcha, composta por Mário Zan e Motinha) e "O Astronauta" (samba de autoria do próprio Bambico em parceria com Pedro Jacob), mostrando que o artista transitava com naturalidade entre gêneros sem perder a essência rural que caracteriza sua obra.
Como solista de viola, Bambico consagrou-se por sua técnica virtuosística e pela capacidade de transformar o instrumento em veículo potente de expressão. Sua abordagem combinava um toque vigoroso e ágil, mesclando a tradição dos ponteios caipiras com inovações rítmicas e melódicas ousadas, como evidenciado em faixas instrumentais como "Brincando Com A Viola" (pagode estilizado) e "Função De Violeiro" (chorinho) . Seu estilo era marcado por:
Articulação técnica refinada: Dominava recursos como escalas veloces, harmonias contrapontísticas e improvisações que expandiam as possibilidades sonoras da viola, influenciando gerações de músicos.
Fusão de gêneros: Mesclava o pagode de viola com baiões, sambas e até chorinhos, como em "O Astronauta" (samba) e "De Papo Pro Á" (baião), demonstrando versatilidade além do universo sertanejo.
Legado como pioneiro: Suas composições e interpretações solo, como "A Viola É Meu Futuro", tornaram-se referências para a valorização da viola como instrumento solo.
Essa maestria solidificou-o como um dos nomes fundamentais da música instrumental caipira, cuja obra resiste como testemunho da inventividade artística nas décadas de 1960 a 1980.
A faixa "Brincando com a Viola", que dá nome ao álbum, consolidou-se como um dos solos mais emblemáticos e estudados da história da viola caipira. Sua estrutura técnica e inventividade melódica a tornaram uma peça de referência para aprendizes e mestres do instrumento. Bambico explora com destreza frases melódicas fluidas carregadas quase totalmente pelo polegar da mão direita, algo que exige muita precisão e agilidade. Essa composição, em particular, transcende o caráter meramente regional – é um exercício de virtuosismo que exige domínio rítmico e de fraseado. Sua perpetuidade em rodas de viola e gravações contemporâneas atesta não apenas o talento de Bambico como compositor, mas também o papel da obra como ponte entre a tradição e a renovação da música instrumental brasileira.
A direção artística do disco ficou a cargo de Toshio H. Yamasaki, com supervisão de Milton Araújo e coordenação de Wilson Souto Jr., todos sob o selo da Gravações Elétricas S.A. – um time que garantiu à produção um padrão técnico e estético notável para a época.
Em tempos de redescoberta da música raiz, Brincando com a Viola surge como um registro essencial não apenas para apreciadores da viola caipira, mas para todos que buscam compreender a diversidade e a evolução da música sertaneja instrumental. Bambico, embora pouco lembrado em estudos acadêmicos, é um daqueles artistas que deixaram um legado sonoro atemporal – e este álbum é a prova.
🎵 Para ouvir: O álbum está disponível em plataformas como Discogs e YouTube, embora sua presença digital ainda seja limitada. Vale a busca!
