No início dos anos 2000, a internet começava a se tornar popular. Pouco a pouco, nós começávamos a descobrir as possibilidades de uso dessa poderosa ferramenta.
Eu, particularmente — à época um estudante do ensino médio —, enxergava nela uma forma de suprir a falta de materiais para estudar música. Depois de revirar as bibliotecas da minha cidade em busca de livros sobre o assunto, vi na internet um novo meio para saciar meu desejo de me aprofundar na linguagem musical.
Anos se passaram, novas tecnologias surgiram e, com a chegada da pandemia de COVID-19, testemunhamos a explosão dos cursos online. Surgiram sites e plataformas com cursos de todos os tipos, sobre todos os assuntos, tudo a poucos cliques de distância.
Naquele momento, em meio às aflições e tristezas que vivíamos, recordo que pensei: "Queria que esses cursos online existissem na minha época de estudante. Era isso que sempre busquei. Finalmente chegou!"
E, de fato, desde então, cursei vários módulos de ensino em diferentes áreas: som, marcenaria, inglês, programação... Para mim, foi uma maravilha!
Porém, algo curioso ocorreu: devido ao fácil acesso aos meios técnicos para produzir um curso, muitas pessoas passaram a compartilhar seus conhecimentos de forma digital. Até aí, perfeito! Afinal, todo mundo tem algo a ensinar. Mas logo surgiu uma nova modalidade: aqueles que faziam cursos para ensinar a vender cursos. E foi então que começaram os problemas.
Produzir um curso já não era mais uma forma de transmitir conhecimentos por meio de uma mídia — no caso, os vídeos. Em vez disso, tornou-se um modelo de negócio no qual pouco importava o conhecimento apresentado; o foco passou a ser criar um produto da forma mais genérica e rápida possível e aplicar um funil de vendas para o maior número de pessoas, usando as estratégias de marketing mais agressivas possíveis.
O resultado não poderia ser outro: a internet foi tomada por anúncios de cursos, posts disfarçados de propaganda e influenciadores vendendo cursos de baixíssima qualidade, os quais o usuário, após duas aulas, abandonava, sentindo-se frustrado e ludibriado.
Em 2025, ainda vivemos esse momento de banalização do conhecimento e do ato de ensinar, transmitir e compartilhar. Porém, no horizonte, começam a surgir iniciativas que provavelmente resignificarão o conceito de cursos online.
Trata-se de plataformas especializadas na produção de cursos sobre determinados assuntos, que não apenas oferecem conteúdos, mas também criam um entorno de conhecimento e aprendizado. Neste artigo, quero apresentar duas dessas iniciativas que inspiraram o vm.lab.
Escola Solano Trindade de Formação e Qualificação Artística, Técnica e Cultural - ESCULT - Governo Federal (iniciativa pública e gratuita)
Essa é provavelmente uma das iniciativas públicas mais bonitas e importantes já realizadas pelo governo brasileiro. Trata-se de uma plataforma de cursos online destinada à formação e qualificação para o mundo do trabalho em cultura, por meio da oferta de cursos livres, de Formação Inicial e Continuada (FIC) e de especialização.
A Escola Solano Trindade de Formação e Qualificação Artística, Técnica e Cultural foi lançada em janeiro de 2024 e é promovida pela Diretoria de Políticas para Trabalhadores da Cultura e da Economia Criativa, por meio da Coordenação de Capacitação e Qualificação Profissional.
Há cursos em todas as áreas: música, artes visuais, audiovisual, gestão cultural, tecnologia, entre outros. As formações dividem-se em:
Cursos Livres de curta duração, que visam enriquecer o conhecimento e promover a formação de estudantes e trabalhadores da cultura;
Formação Inicial e Continuada, pensada para adquirir novos conhecimentos ou aprofundar-se em uma área de atuação;
Pós-Graduação, com cursos cuidadosamente desenvolvidos para proporcionar uma educação sólida e abrangente em diversas áreas das artes e da cultura, equilibrando teoria e prática.
Essa plataforma não apenas promove a difusão do conhecimento na área cultural, como também abre portas para a profissionalização do setor, oferecendo oportunidades de gerar emprego e renda de forma gratuita.
CultSP PRO - Governo do Estado de São Paulo (iniciativa pública e gratuita)
Essa é outra iniciativa importante e valiosa do Governo do Estado de São Paulo. O Cultura Pro é um programa inovador de qualificação profissional, inovação e sustentabilidade, criado pela Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas e gerido pelo IDG. Seu principal objetivo é fomentar o desenvolvimento econômico da Cadeia Produtiva da Cultura e da Indústria Criativa, fortalecendo o setor por meio da qualificação profissional.
Essa iniciativa pioneira oferece oportunidades inéditas de capacitação e aprimoramento para profissionais que atuam em diversos segmentos e linguagens. Com cursos adaptados às demandas específicas de cada área, o programa busca tanto formar novos talentos quanto aperfeiçoar as competências de quem já está no mercado, acompanhando as transformações do setor cultural.
O CULTSP PRO oferece uma ampla gama de cursos gratuitos adaptados às diversas necessidades de artistas, criativos e operadores da cultura, atendendo a diferentes estágios de desenvolvimento profissional. Os cursos estão organizados em seis escolas temáticas, além de um programa especial de qualificação.
A partir do momento em que o poder público passa a entender a importância da formação, especialização e capacitação no campo da cultura, abre-se um novo horizonte. Nele, a criação de espaços digitais dedicados a temas específicos pode ser o ponto de partida para jornadas profundas de aprendizado, sem a necessidade de estratégias mirabolantes de marketing — muitas delas de teor duvidoso.
Por fim, há a esperança de que o ambiente digital se torne um espaço de aprendizado e compartilhamento de conhecimento seguro, confiável e especializado.
